segunda-feira, 20 de junho de 2011

A Abordagem da Disciplina


Um pouco da sequência dos artigos que vou escrevendo, passa também um pouco pelo que se sucede ao longo do meu dia a dia de trabalho. Acaba por ser um desabafo, um arrumar de ideias para mim, para os pais e por quem aqui passa e sinta que de alguma forma o que aqui escrevo ajuda-o de alguma forma.

Disciplina, regras...porquê é que algumas crianças são mais « fáceis« de impor regras do que outras?..porque é que crianças com dificuldades/alterações no desenvolvimento apresentam mais alterações de comportamento?...pois bem e citando o grande pediatra Brazelton, é importante compreender a personalidade da criança para assim conseguir adaptar a disciplina às qualidades individuais dela.

Durante o meu dia a dia de trabalho e entre uma criança e outra, antes propriamente da intervenção, há necessidade de traçar um perfil da personalidade da criança que tenho à frente, para então seleccionar as estratégias para alcançar os objectivos a que nos propomos (eu e a família) em relação ao seu desenvolvimento, quer na área da comunicação, quer na área da linguagem quer na área da alimentação.

A personalidade da criança é única e revela-se logo desde o seu inicio. O tipo de disciplina a que uma criança responde e o numero de vezes que precisa dela, variam, em parte, com a sua personalidade. Pode-se apontar três grupos de características que variam de criança para criança e afetam a maneira como cada uma lida com o mundo. Estas, em conjunto com os ritmos de sono, a fome e outras funções biológicas, definem a personalidade da criança:
- a forma como a criança encara as tarefas - a sua atenção, a sua persistência, o nível de atenção;
- a flexibilidade com que encara as pessoas - orgulhosa, adaptável, envergonhada ou rígida;
- a forma como reage às imagens, sons, acontecimentos, mudança de rotinas, etc.. - a qualidade dos seus estados de espírito e a intensidade das suas reacções.

Tendo em conta estas três características, é necessário saber arranjar estratégias para conseguirmos que a criança realize a tarefa ou compreenda o que lhe está a ser pedido.

- Crianças muito ativas: podem ter maiores dificuldades em se controlarem e precisam com mais frequência de uma atitude mais prática do adulto.

- Crianças difíceis de se ambientar: muitas vezes inibem-se ou até mesmo tornam-se rebeldes de forma calma, se forem obrigadas a experimentar algo de novo. São crianças que necessitam de mais encorajamento e mais tempo para se prepararem e precisam que o adulto decomponha a nova exigência em passos mais pequenos.

- crianças muito sensíveis: atentas a tudo o que lhes rodeia, podem sentir-se responsáveis por coisas que não são para a sua idade e sentirem-se destroçadas pela culpa, à mais leve chamada de atenção.

- Crianças com pouca capacidade de concentração: podem ter dificuldades em cumprir uma série de instruções e precisam de de terminar uma tarefa de cada vez, antes de lhes ser dada outra.

- Crianças com hipersensibilidade sensorial: que sentem profundamente tudo o que vêem, ouvem ou tocam. Precisam de silenciar os sons e fechar os olhos às imagens que as rodeiam. Isto pode fazer com que não respondam a um pedido do adulto.

Compreender a personalidade da criança ajuda a adaptar a disciplina para a tornar mais eficaz. Uma disciplina adaptada às qualidades individuais da criança tem maiores probabilidades de a ensinar a controlar o seu comportamento - sozinha.

Não nos podemos esquecer que é com as regras e com os limites impostos pelo adulto que a criança organiza-se, cresce e aprende.






«O Método Brazelton - A Criança e a Disciplina», T. Brazelton e J. Sparrow

segunda-feira, 13 de junho de 2011

A importância de detetar precocemente os problemas de audição


A audição é um dos sentidos mais importantes para a linguagem oral..por isso a deteção precoce dos problemas de audição na criança é importante para o seu desenvolvimento linguístico.


Os primeiros anos de vida têm sido considerados como o período crítico para o desenvolvimento das competências auditivas e de linguagem. Este é o período de
maior plasticidade cerebral das vias auditivas. Neste período, o sistema nervoso auditivo central pode ser modificado de maneira positiva ou negativa, dependendo da quantidade e qualidade dos estímulos externos captados. Além disso, o período de receção dos símbolos linguísticos auditivos é um pré-requisito para a formulação da expressão verbal.

O diagnóstico audiológico realizado durante o primeiro ano de vida possibilita a intervenção médica e terapêutica, ainda neste
período, permitindo um prognóstico mais favorável em relaç
ão ao desenvolvimento global da criança.


As alterações ao nível da audição podem ser percebidas desde o primeiro mês de vida. Basta observar se a criança apresenta alguma reação perante um som (como direcionar o rosto quando ouve o som). Após um ano de idade é importante verificar se a criança balbucia e se reage a algum som.

É possível reconhecer uma criança ou um adulto com dificuldade de audição quando não responde quando é chamada, solicita sempre a repetição do que foi dito, aumenta o volume do rádio ou da televisão, é desatenta, apresenta alterações articulatórias verbais (troca as letras na fala) e ainda apresenta dificuldades de aprendizagem.


Desenvolvimento da fala e audição:

· 0 à 3 meses: A criança diminui a atividade que está a fazer ou fica mais quieta ao ouvir um som. Por exemplo: voz dos pais e apresenta reações a sons altos: pisca os olhos, chora, pára de mamar.

· 3 a 6 meses: Olha para quem fala; vira a cabeça para o lado de fonte sonora; gosta de brinquedos que emitem sons.

· 6 a 10 meses: Responde ao próprio nome e mostra compreensão a palavras simples. Exemplos.: Não, tchau!. Emitem sons.
· 10 a 15 meses: Imita palavras simples; conhece o nome dos seus brinquedos e pode apontá-los quando lhe é pedido.
· 15 a 20 meses: Fala entre 10 a 20 palavras.
· 20 a 24 meses: Mostra interesse na rádio e televisão; já sabe dizer o seu nome.
· 24 meses a 3 anos: fala das suas experiências do dia-a-dia; fala cerca de 270 palavras.
· Maior de 3 anos: Conversa corretamente, sem trocas ou erros de fonemas (com excepção do som /r/ que pode ser adquirido até mais tarde).

Northern e Downs, 1989; Zorzi,. 2000


Ainda dentro da problemática dos problemas de audição e a primeira

infãncia, não poderia deixar de falar no uso de biberões até uma idade tardia e de serem ingeridos numa posição inadequada (deitados) e que podem originar otites médias.


O bebé deve ficar ligeiramente sentado impedindo que o leite reflua para a nasofaringe, originando o risco de otites. Esta posição permite que a língua encoste ao palato na posição correcta para engolir, porque quando está deitado, o bebé engole o leite rapidamente a língua fica mais anterior podendo originar mais tarde problemas de fala ou deglutição.


A revisão da literatura mostra que a perda auditiva observada nas otites médias pode ser ligeira e flutuante e os dados mostram que os três primeiros anos de vida da criança são críticos para o desenvolvimento da linguagem, e que crianças com otites médias, neste período, têm maior risco de apresentarem atraso do desenvolvimento da linguagem, no comportamento e, futuramente, na aprendizagem escolar.


Hoffman et al, 2002; Butler et al, 2001

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Freio da Lingua...cortar ou não???

«O meu filho não fala...será que tem a lingua presa?..»

Este é um tema que os terapeutas da fala, médicos pediatras e outros técnicos que seguem a criança, ouvem para a justificação de muitos dos atrasos ao nível da linguagem expressiva e de muitas alterações da articulação verbal por parte dos pais. Por isso hoje vou dedicar este artigo à esse tema: O freio da Lingua.

Quase todas as alterações da fala não tem qualquer relação com a real problemática da "língua presa", ou seja, com a presença de um freio lingual encurtado e com inserção anteriorizada. Porém, há casos em que realmente existe um encurtamento e uma inserção anteriorizada do freio lingual que irá prejudicar os movimentos da língua e consequentemente a fala e a deglutição (ato de engolir).

O comprimento do freio da língua, que é uma faixa de tecido localizada abaixo da língua, varia consideravelmente de pessoa para pessoa. Ao nascer, os bebês têm a língua curta e o freio estreito (favorecer o tipo de alimentação). Depois de um ano, o freio pode ficar anormalmente curto se:

- A ponta da língua não pode ser puxada para fora.
- Ao puxar a língua, a lingua «parte-se» ao meio (bifida).

Nestes casos extremos em que é muito restrito as possibilidades de movimentação da lingua, há a necessidade de intervenção terapêutica (terapia da fala) para reorganizar os movimentos da língua tanto para a deglutição como para a fala.

Quando o freio lingual é curto a língua tem dificuldades em se elevar e produzir adequadamente sons, tais como: /t/, /d/, /l/ e /r/, entre outros.

Nos casos em que existe algum destes problemas, há necessidade inicialmente de uma frenectomia (corte do freio lingual) para que a mesma possa ter "liberdade" para se movimentar. Esta cirurgia é realizada por um cirurgião pediátrico, e se existem alterações no padrão da deglutição e no padrão articulatório verbal é importante a intervenção do terapeuta da fala para a reorganização do padrão motor da lingua para a função.

No entanto, lembre-se que em muitos casos, mesmo que haja um encurtamento da lingua a criança consegue um padrão motor (da lingua) adequado tanto para a deglutição como para a fala, e as dificuldades que muitas vezes apresenta ao nível da Linguagem/Fala nada têm a ver com a motricidade oral.

Portanto, se tem dúvidas quanto ao desenvolvimento da linguagem do seu filho, fale com o seu médico pediatra ou procure um terapeuta da fala, eles irão esclarecer quanto às suas dúvidas e fornecer a melhor orientação para o problema.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

A importância do BRINCAR....

“Privar uma criança de brincar é privá-la do prazer de viver”,






Françoise Dolto




Indo de encontro à época e visto estarmos a comemorar o Dia da Criança deixo convosco aqui algumas palavras sobre a importância do brincar no desenvolvimento psicomotor da criança.

Nos tempos que correm, os pais parecem obcecados pelo sucesso escolar dos filhos, o que não é de admirar se pensarmos na competitividade do meio profissional, no desemprego e no consumo desenfreado.

Na ânsia louvável de os ajudar a vir a ser alguém, esquecemo-nos de uma coisa fundamental: as crianças também precisam de brincar, de perder horas infindas a fazer aquilo que realmente gostam.

Brincar está profundamente ligado à aprendizagem, principalmente nos primeiros anos, e é através dos brinquedos e das brincadeiras que a criança descobre o seu papel no mundo.

Explorando sítios novos, que imaginam ser grutas de piratas e cavernas de Ali Babá, acreditando ser reis, princesas, soldados e ladrões, etc., os miúdos aprendem a conhecer o ambiente que os rodeia e a aperfeiçoar as suas relações com os outros.

Por vezes acontece os pais estarem tão ocupados a pensar quais os brinquedos mais didácticos que podem comprar para os filhos, e quais os que vão fazer ficar mais inteligentes que os outros meninos, que se esquecem de que uma boa brincadeira não exige nada de muito dispendioso ou sofisticado.

A maneira como os pais reagem às brincadeiras está intimamente ligada ao prazer que as crianças retiram delas. Se estes transmitem ao filho a ideia de que brincar é pouco importante, ela não poderá divertir-se em pleno.

Não se preocupe com aquele quarto eternamente desarrumado com puzzles, cubos e blocos de todas as cores é um verdadeiro passaporte para que o seu filho venha a estar entre os primeiros da turma, pois estes brinquedos para montar estimulam a criatividade da criança.

Os especialistas sugerem que os pais ofereçam aos filhos a maior quantidade possível de brinquedos de montar que se possam transformar em inúmeras coisas, em vez de outros que sejam aquilo que está à vista e nada mais.

Os brinquedos com funções muito limitadas, além de pouco apelativos, despertam o interesse das crianças durante muito menos tempo.

Uma caixa cheia de areia, objectos do uso do dia a dia, material para pintar e papel, plasticina e roupas velhas com que possam inventar máscaras criativas estimulam a imaginação de forma excelente e são muito mais baratos.

Um adulto que encoraja uma criança a brincar deve dar-lhe ideias e ajudá-la a pô-las em prática, mas deve deixá-la adaptar as brincadeiras à sua maneira e dar-lhes o seu cunho pessoal. Deixe ser ela a criar o seu «faz de conta», dê-lhe pistas para fazer associações entre ideias e conseguir resolver dilemas e alargar o contexto da brincadeira

Se sugerir uma brincadeira ao seu filho, não tente impor-lhe a sua vontade, dizendo-lhe que era mais giro se ele fizesse assim ou assado, ou chegando ao cúmulo de ser você a fazer tudo sozinha. Ele terá muito mais orgulho nos biscoitos defeituosos ou na torre em equilíbrio precário que fez com as próprias mãos do que uma grande obra de arte, toda perfeitinha, feita por si.

Para além disso, só dando à sua imaginação e vontade a criança pode desenvolver a sua curiosidade natural e autoconfiança. Deixe que ela assuma as rédeas da brincadeira e que lhe peça ajuda quando necessário.

Em suma, é importante brincar: sozinho, com amigos, com irmãos, com bolas, livros ou barbies. Não e preciso gastar muito dinheiro nem puxar demasiado pela imaginação para garantir aos seus filhos horas de divertimento puro. E não se esqueça que, ao brincar, eles também estão a aprender...




E já agora aconselho a leitura deste artigo da psicologa Clinica Teresa Santos.


http://www.rituais.net/tabid/332/language/pt-PT/Default.aspx