quarta-feira, 27 de julho de 2011

DESENVOLVER CAPACIDADES MOTORAS ORAIS

já dizia o velho ditado: «Mais vale prevenir que remediar», é a partir deste que escrevo o artigo de hoje…já que aí estão as férias e há sempre mais um tempinho para brincadeiras em família e também para aproveitar para dar à volta a alguns «hábitos» que não ajudam o desenvolvimento adequado das capacidades motoras orais.

Não se trata de um plano de intervenção…mas sim de prevenção!!!!...com algumas dicas e estratégias de exercícios e brincadeiras que facilitam o desenvolvimento motor oral, com o objectivo de uma aquisição correcta da fala.

- Pôr de parte hábitos orais, tais como biberão e chupeta: aproveite as ferias para tirar a chupeta e trocar o biberão por um copo ou por uma palhinha se a criança já tiver mais de 18 meses; com as férias não há a pressa de ter de acordar cedo, de ter de se despachar mais rápido (que é o que muitas vezes acontece com as crianças que apresentam hábitos de sucção muito tardios)

- Favorecer mastigação, a introdução de novos alimentos com diferentes texturas e sabores, (tempo de ferias e de praia, a estimulação sensorial táctil consequente do Verão, pelo uso de menos roupa, pela água e pela a areia da praia faz com que a criança tenha um «banho sensorial»…aproveite!!!)

- Lamber gelados (trabalha o movimento de supraversão da língua)

- Favorecer a respiração nasal (mantendo sempre a desobstrução nasal, retirar os hábitos de sucção)

- Exercícios:
- dar estalinhos com a língua
- dar estalinhos com os lábios
- «limpar o bigode» com a língua
- levar a língua de um canto a outro dos lábios
- «varrer o céu da boca» de trás para a frente com a ponta da lingua
- encher balões,
- fazer bolas de sabão
- soprar «línguas de sogra»
- se a criança apresentar um posicionamento de manutenção da boca aberta, estimular o morder, através de borrachas para os dentes (brinquedos de silicone que se vendem para os bebés morderem)
- mastigar pastilha elástica sem açúcar
- beber pela palhinha
- fazer caretas (mímica facial)

A base para um bom padrão de articulação verbal esta nas boas capacidades da motricidade oral, por isso atenção às transições alimentares e aos hábitos orais (chupeta, chuchar no dedo, biberão…).


....Divirtam-se e boas férias!!!!

sexta-feira, 8 de julho de 2011

PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL

O Processamento Auditivo Central refere-se aos processos envolvidos na detecção, na análise e na interpretação de eventos sonoros. Estes processos acontecem no sistema auditivo periférico e no sistema nervoso auditivo central. É desenvolvido nos primeiros anos de vida, portanto é a partir da experienciação do mundo sonoro que aprendemos a ouvir.

O que representa uma Perturbação do Processamento Auditivo Central?
- A alteração no funcionamento do processamento auditivo está relacionada com uma alteração da função auditiva em que há um impedimento na capacidade de analisar e/ou interpretar padrões sonoros.

QUAL É O PRINCIPAL OBJECTIVO DA AVALIAÇÃO DO PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL?
- O objectivo da avaliação do processamento auditivo central é medir a capacidade do indivíduo em reconhecer sons verbais e não verbais em condições de audição difícil. Desta forma, pode-se inferir sobre a capacidade do indivíduo em acompanhar a conversação em ambientes desfavoráveis; determinar as incapacidades auditivas, ter um parâmetro de medida quantitativo da qualidade da audição e contribuir no diagnóstico e no tratamento de diversas perturbações da comunicação oral e escrita.

O QUE FAZER NAS ALTERAÇÕES DE PROCESSAMENTO AUDITVO?


- Nas alterações de processamento auditivo a conduta principal é o treino auditivo. O desenvolvimento auditivo verbal envolvendo as capacidades auditivas de atenção selectiva; discriminação dos padrões temporais e de frequência dos sons da fala; localização; memória; fala e linguagem deve fazer parte do plano de intervenção do terapeuta da fala.

O MEU FILHO TEM UMA PERTURBAÇÃO DO PROCESSAMENTO AUDITIVO?
- A maioria dos pais quando se defronta com uma criança com uma perturbação do processamento auditivo refere as mesmas situações:


“o meu filho parece que não ouve embora tenha tido um exame audiológico normal”, o meu filho distrai-se e não compreende bem o que dizemos se houver barulho no lugar”, está sempre a perguntar ah?, o quê?, é preciso repetir muitas vezes o que dizemos, não gosta de sons fortes como os foguetes… »


Diversas são as queixas que podem gerar dúvidas sobre a maturidade do sistema auditivo.
Uma perturbação do processamento auditivo difere da surdez, pois a pessoa pode não ter perda de audição, a dificuldade está em entender aquilo que se ouve.
Para sabermos que estamos perante uma dificuldade de processamento auditivo, a primeira providência é consultar um médico otorrinolaringologista. Após verificar que não há perda auditiva, ou esta seja mínima, passa-se para a avaliação do processamento auditivo, se for verificado que o problema está a este nível – perturbação do processamento auditivo – deve ser iniciado treino auditivo por um terapeuta da fala, para que tal perturbação possa e deva ser tratada.

SINAIS:
- Mostra-se excessivamente desatento;
- Apresenta reacções exacerbadas para sons intensos;
- Tem uma reacção lenta ao responder a estímulos auditivos (aumento do tempo de latência das respostas);
- Tem dificuldade na localização sonora;
- Tem dificuldade em acompanhar uma conversa quando as pessoas falam ao mesmo;
- Confunde a ordem dos factos ou não compreende uma história ou anedota com duplo sentido;
- Não atende prontamente quando é chamado ou necessita que o chamemos muitas vezes para que responda;
- Tem dificuldade em pronunciar o /r/ e o /l/;
- Fica confuso ao narrar uma história ou quando tem que fazer um recado;
- Apresenta dificuldades na escola, principalmente nas disciplinas de Matemática e de Português;
- Demora muito para conseguir aprender a ler e a escrever;
- Troca muito as letras na escrita;
- Tem uma má caligrafia;
- Confunde-se sistematicamente ao identificar e a distinguir a direita da esquerda;
- Não consegue interpretar os textos que lê;
- Tem dificuldade em memorizar as coisas;
- É muito agitado ou, pelo contrário, quieto demais;
- Solicita a repetição de informações auditivas;
- Procura pistas visuais no rosto do falante;
- Tem histórico de infecções repetitivas nos ouvidos (otites);
- Gagueja ao falar;
- Desajustes sociais: tendência ao isolamento.


E CAUSAS que podem estar associadas:

- Privação sensorial (falta de experiência acústica no meio ambiente) que gera uma imaturidade das vias auditivas do sistema auditivo;
- Alterações neurológicas (doenças degenerativas, alterações causadas por anóxia);
- Problemas congénitos (infecções congénitas – rubéola, sífilis, toxoplasmose, herpes e citomegalovírus);
- Baixo peso ao nascer;
- Alcoolismo materno ou ingestão de drogas psicotrópicas na gestação;
- Permanência na incubadora;
- Perda auditiva condutiva (a frequência da otite leva a uma falta de consistência de estimulação, à distorção da mensagem e, consequentemente, a alterações do desenvolvimento da audição, da fala e da linguagem);
- Perda auditiva neurossensorial nos primeiros anos de vida.

ESTRATÉGIAS A SEREM UTILIZADAS:

•Em crianças com dificuldades em processar a informação auditiva deve ser utilizado estratégias facilitadoras. Em baixo referem-se algumas estratégias que podem ajudar seu filho(a)/aluno(a), porém actividades mais específicas e direccionadas especificamente para o problema da criança são dadas durante o treino auditivo com o terapeuta da fala e após avaliação prévia.



- Em sala de aula:
* Ter um lugar preferencial que será indicado de acordo com os exames e estratégias terapêuticas realizadas
* Manter as portas fechadas
* Estar em salas com material que tenha boa capacidade de absorção acústica
* As áreas de estudo devem ser silenciosas, livres de distracções auditivas e visuais.
* Os professores podem usar estratégias para melhorar a transmissão da mensagem (ex.: reforço com palavras-chave, escritas à frente da criança)
* Pequenos toques ou chamar o aluno pelo seu nome durante a aula, pode ajudar a verificar sua manutenção de atenção
* Em alguns casos oferecer imagens (pista visual) em simultâneo com a mensagem auditiva pode ajudar na memorização;
* É importante que o aluno tenha uma lista do vocabulário chave: escrever no quadro palavras-chave do novo material e as instruções (a criança com PPAC necessita de anotações organizadas e lembretes);
* Um amplificador de som poderá ser bem útil em alguns casos (sistema FM)

Orientações para o estudo em casa:
* Reduzir o nível de ruído nos locais de estudo
* Usar alcatifa, remover telefones ou outros estímulos auditivos do local de estudo.
* Ter sempre que possível um auxiliar para as actividades mais difíceis
* Ter situações diárias de comunicação entre pais e filho(a)
* Os pais devem ser um bom modelo de fala: descrever para a criança as actividades diárias, expandir a fala da criança acrescentando novas informações, usar frases curtas, ditas pausadamente, com grande entoação melódica e sempre num contexto rico.
* Evitar a TV e o rádio ligado em volume alto, durante situações de comunicação (conversação)

Orientações para uma criança com PPAC:
* Aprende a apontar as palavras-chave!
* Em alguns casos o uso de um gravador pode auxiliar os seus estudos
* Tenta imaginar tudo o que ouves, visualiza a informação! Treina esta actividade com o teu terapeuta.






referências bibliográficas:




Nunes, C. (2010) Apontamentos do Curso de Processamento Auditivo Central




Arte de Comunicar






quarta-feira, 6 de julho de 2011

Capacidades de Consciência Fonológica

O insucesso escolar ainda é um dos grandes problemas da nossa sociedade e propostas para minimizar o mesmo têm de ser desenvolvidas.

O papel da consciência fonológica sobre a aprendizagem da leitura e da escrita é amplamente referenciado na literatura, assim como a importância da utilização de actividades de consciência fonológica de forma preventiva ou habilitadora.

A Consciência Fonológica (CF) constitui um dos níveis da consciência linguística ou metalinguagem, mais ampla, e abarca os aspectos morfológicos, semânticos, sintácticos e pragmáticos da linguagem.

Então, o que é a Consciência fonológica (CF)?

A CF é uma capacidade metalinguística, na qual a percepção é dirigida aos segmentos sonoros da fala, permitindo a sua identificação e manipulação. Tem como característica principal a intencionalidade e evolui da identificação de rimas a sílabas até a identificação dos elementos mais discretos da fala – os fonemas.

Esta evolução pode ser observada quanto ao nível das sílabas, das unidades intra-silábicas e dos fonemas.

O primeiro nível refere-se a capacidade da criança em dividir as palavras em sílabas. A sílaba é a unidade natural de segmentação da fala, sendo esta a a mais fácil para as crianças.
As crianças desde muito cedo apresentam esta capacidade de dividir a palavra em sílabas oralmente, sendo muitas vezes espontânea e usada nas suas brincadeiras, tais como nas lengas-lengas para saber quem inicia o jogo, por exemplo: «un-dó-li-tá-…» ou «u-na-ni-po-li-po-li-a-na-u-ma-bar-qui-nha-que-vem-da-es-pa-nha-u-na-ni-quem-a-pa-nha-és-tu».

O segundo nível é o das capacidades intra-silábicas, refere-se à capacidade de reconhecer que existem palavras que podem iniciar e terminar com os mesmos sons, constituindo as alterações (braço – brisa; maçã – mota) e as rimas (limão – coração) respectivamente.
As rimas caracterizam-se essencialmente pela presença de sons iguais desde a vogal ou ditongo tónico até o último fonema (gato – pato); podem constituir sílabas inteiras (comilão-castelão), só a rima da sílaba (rapé – café), mais do que uma sílaba (história – vitória) e em palavras monossílabas (pão – mão).

As rimas acabam por fazer parte «naturalmente» do desenvolvimento linguístico da criança, pois fazem parte do seu dia a dia desde muito cedo, nas músicas, nas histórias, nas lengas-lengas, tornando-se numa actividade mais fácil por não exigir uma competência analítica mas sim uma similaridade fonológica. Esta capacidade auxilia nas analogias entre as palavras.

O terceiro nível refere-se a capacidade de dividir as palavras em fonemas, ou seja, nas menores unidades de som que podem modificar o significado de uma palavra, também chamada de consciência fonémica. Necessita de maiores capacidades de consciência fonológica e está relacionada ao contacto com a escrita, mesmo que não seja dentro de um sistema convencional de ensino.

Um ambiente rico em histórias, música, lengas-lengas, adivinhas, anedotas, etc.. incentivará o desenvolvimento das capacidades de CF da criança e esta poderá apresentar mais refinada a capacidade de interpretar e estabelecer significados, melhor desempenho ao nível da memória auditiva e visual e um maior léxico.

Então, a CF é importante porque…

 A consciência dos fonemas é necessária para compreender o princípio alfabético, que está na base do nosso sistema de língua escrita.
 Os leitores em desenvolvimento devem ser sensíveis à estrutura interna das palavras.
 Se as crianças compreenderem que as palavras podem ser divididas em fonemas individuais e que os fonemas podem ser combinados de modo a formar palavras, podem usar o conhecimento da relação letra-som para ler e construir palavras.

Logo…

 As capacidades de CF que a criança apresenta no jardim-de-infância/pré permitem prever o sucesso da criança para a capacidade leitora.
 O sucesso nos primeiros passos da leitura depende de conseguir um determinado nível de CF.
 O desenvolver as capacidades de CF beneficia todas as crianças e torna-se critica para outras, principalmente para estudantes em situação de risco, ou seja, que apresentam dificuldades de aprendizagem.


Para quem vive perto, aconselho... ~