sexta-feira, 1 de junho de 2012

INTERVENÇÃO DA TERAPIA DA FALA NO SINDROME DE ASPERGER

Hoje, dia 1 de Junho, comemora-se o dia mundial da criança, uma data assinalada para lembrarmo-nos dos seus direitos e não esquecer que cada criança è UMA criança, e HÁ que respeitar as suas diferenças. Por isso, hoje publico um excerto de um artigo sobre a intervenção no sindrome de asperger, respetivamente a intervenção da terapia da fala.

O Sindrome de Asperger (SA) apresenta desvios significativos e anormalidades nas areas do relacionamento social, uso da linguagem para a comunicação e certas caracteristicas de comportamento e estilo, que envolvem repetições ou perseverações sobre um número limitado , porém intenso, de interesses e estereotipias. Encontram-se factores semelhantes ao que acontece no autismo, mas sem défices cognitivos, nem atrasos no desenvolvimento da linguagem, embora possuem caracteristicas peculiares, com alteração verbal e não-verbal (Batista, 2002; Fernandes, 2000).
Batista (2002) e Lopes (2000) apontam os disturbios da comunicação verbal e não-verbal como caracteristicas da SA, uma vez que estes individuos parecem não utilizar a linguagem dentro do processo comunicativo socio-interaccional, mas como objecto, com um fim em si mesmo. Apresentam um campo limitado e peculiar de interesses, dedicando-se a assuntos não usuais ao seu grupo etário e utilizando a excelente capacidade de memória que possuem. Por vezes, apresentam uma fala pedante, desde o inicio das suas manifestações verbais, com o uso de palavras dificeis, num tom falso e pouco espontâneo (alterações ao nível da prosódia e melodia).

Tais caracteristicas são demonstradas pelas dificuldades em criar um discurso coeso e contextualizado e em iniciar e manter turnos e tópicos na conversação. Segundo os estudos de Fernandes (2000) e Lopes (2000), a compreensão destes individuos como um todo pode estar comprometida, já que a tendência é deles compreenderem o que lhes foi dito de forma literal, não conseguindo abstrair o conteúdo metafórico ou o duplo sentido das expressões. Existe, portanto, uma disparidade entre o uso que estes indivíduos fazem de vocabulários pouco usuais, a idade cronológica e a dificuldade de entendimento de palavras e expressões de uso incomum. Uma criança com SA quando avaliada no seu aspecto pragmático consegue estabelecer um compromisso conversacional por tempo limitado, distraindo-se e modificando, constantemente, o foco da conversação para temas divergentes, na maioria das vezes de interesse pessoal, e também por tempo restrito, isto segundo pesquisas de Batista (2002) e Limongi (2003). É observada igualmente a grande necessidade da criança em estabelecer alguma actividade linguística quando o silêncio se torna presente, porém, fá-lo com conteúdos de baixa coesão. Quanto às habilidades conversacionais, é importante ressaltar a presença de características peculiares na voz, como entoação exacerbada, velocidade de discurso aumentada, altura tonal muitas vezes exagerada e sensação de voz robotizada (Batista 2002). Além de apresentarem nos seus discursos uma fala pedante com uso de palavras e expressões descontextualizadas, chegando à estereotipia e ao jargão. Segundo Batista (2002), é possível observar o uso assistemático de pronomes pessoais, possessivos, interrogativos, demonstrativos e indefinidos, o que torna a fala mais cansativa e estereotipada. Em relação às habilidades não-verbais, os gestos simbólicos são poucos utilizados por estas crianças, apresentam pouca mímica facial, muitas vezes não realizando expressões faciais marcantes em momentos distintos e parecem não entender mímicas e expressões faciais das outras pessoas (Fernandes, 2000). Para além disso, apresentam grande dificuldade em comunicar com o olhar, mantendo pouco ou quase nenhum contacto visual com o interlocutor. Características estas que dificultam ainda mais o estabelecimento de uma comunicação positiva e interactiva (Batista, 2002)

O acompanhamento da terapia da fala nestes casos é de suma importância para o desenvolvimento mais próximo do considerado normal da linguagem e da comunicação destes indivíduos. A obtenção de dados objectivos com a família sobre a comunicação e a interacção da criança permite ao profissional identificar progressos a curto prazo ou a delineação de procedimentos alternativos. A partir desses dados e da própria avaliação do profissional, com os meios necessários para isso, é construído o perfil comunicativo da criança, o que facilita todo processo terapêutico, sem deixar de dar atenção aos aspectos subjectivos também envolvidos neste processo.

Ana Marques
in Revista Diversidades «O Mundo Aspie»