Hoje, dia 2 de Abril, celebra-se o Dia Mundial de Conscientiização do Autismo
(World Autism Awareness Day), instituído em 2007 pela Resolução nº 62/139 da Organização das Nações Unidas.
Um bem haja a todas as crianças, famílias e profissionais que intervêm junto destas com o objetivo de ajudar, facilitar, estimular e desenvolver e que todos os dias dão um bocadinho de si para este propósito.
Hoje deixo aqui algumas linhas sobre a nossa intervenção (terapia da fala) em crianças com autismo.
Perturbação do Espetro do Autismo
A
PEA tem sido estudada desde há mais de 60 anos. Actualmente, com os avanços nesta
área e com uma maior consciencialização para a intervenção precoce, tem vindo a
aumentar o número de diagnósticos, sendo também detectados em idades cada vez
mais precoces. No entanto, a sua etiologia é ainda desconhecida, apesar dos
inúmeros estudos realizados.
A
intervenção adequada desta patologia deve ser personalizada e adequada a cada
indivíduo, devendo compreender componentes farmacológicos (quando e se necessário,
dependendo do grau de severidade), comportamentais, educacionais e
psicológicos.
As
intervenções na comunicação/linguagem são de uma grande importância nas crianças
com PEA, uma vez que o desenvolvimento desta é o preditor mais forte de
resultados no autismo, ou seja, torna-se indicador de um bom ou mau
prognóstico.
O
nível da linguagem expressiva é uma característica importante a avaliar em
termos de prognóstico, uma vez que, segundo diversos estudos, é um bom preditor
dos resultados a longo prazo. Uma linguagem muito limitada por volta dos cinco
anos de idade constitui um forte indicador de grave incapacidade na idade
adulta ao nível das capacidades de comunicação/linguagem e consequentemente de
relação. Por isto, as intervenções com o objetivo de desenvolver uma
comunicação funcional são prioritárias na educação das crianças com autismo.
O
atraso, o desenvolvimento atípico ou ausência total da linguagem é um dos
principais critérios para diagnosticar uma PEA, sendo também o sintoma inicial mais
frequentemente reconhecido pelos pais destas crianças e sendo a queixa
principal quando falam com os seus médicos assistentes. Cerca de 50% das
crianças com autismo não chegam mesmo a desenvolver a fala. Estes défices são
normalmente evidentes tanto ao nível da compreensão – processamento da
informação verbal e não-verbal - como da expressão – gestos, palavras, etc.
Nos
casos em que há desenvolvimento da linguagem, esta é «diferente», repetitiva,
construída por palavras isoladas ou inventadas, ecolália ou, em alguns casos,
formal e pedante. A fala parece vazia e repetitiva. Em contexto social, é
visivel uma carência de ligação às conversas com outras pessoas, falando de
forma espontânea ou respondendo de forma inadequada ou irrelevante. Ou seja, as
crianças com PEA apresentam grandes dificuldades na capacidade de utilizar a
linguagem como meio de comunicação, apresentando défices na aquisição do sistema
linguístico e na compreensão e utilização das regras de um ou mais subsistemas
linguísticos (fonológicas, morfológicas, sintácticas, semânticas e
pragmáticas). As dificuldades mais acentuadas geralmente são notadas na
semântica e na pragmática.
A Terapia da Fala na intervenção em
crianças com PEA
A
terapia da fala (TF) nas crianças autistas pode intervir em anomalias
linguísticas específicas, tal como a ecolália ou o mutismo. Tem como objectivo diminuir a frequência ou
até mesmo eliminar as formas pré-simbólicas não convencionais (gritos, por
exemplo), substituindo-as por “instrumentos convencionais de comunicação,
pré-simbólicos e simbólicos, alargando as suas intenções comunicativas às
categorias pragmáticas não utilizadas”. Nas crianças que apresentam linguagem
oral (fala), a TF foca-se fundamentalmente no desenvolvimento da compreensão e
expressão verbal, nomeadamente da semântica e pragmática.
Se
esta terapia for bem sucedida, pode permitir às crianças autistas uma maior
autonomia e independência, desenvolvendo também uma maior motivação para
comunicar. Para além da intervenção na área da Linguagem/Comunicação a
intervenção da TF foca-se também ao nível das dificuldades de alimentação com
base sensorial, intervindo conjuntamente com o terapeuta ocupacional com o
objetivo comum, dentro de cada uma das áreas de intervenção, melhorar e adequar
a motricidade e sensibilidade oral para a alimentação.
Ana Marques
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