sábado, 7 de fevereiro de 2015

FARMACOLOGIA NA PATOLOGIA

Das minhas «leituras» perante a incompreensão de alguns sintomas que me deparo no meu dia a dia como terapeuta, surgem aqui estas pequenas reflexões, esta será assim mais uma, fruto dessas procuras no sentido de perceber um pouco mais e de certa forma tentar ajudar, adequar a minha prática. Neste sentido hoje falamos sobre farmacologia na patologia - neste caso nas perturbações do espectro do autismo e posteriormente quais as repercussões da terapêutica medicamentosa da PHDA na gaguez.


Apesar de nenhum fármaco ter sido encontrado como a cura para o autismo vários medicamentos são usados para controlar as co-morbilidades associadas ao autismo, com o objetivo de minorar os problemas de comportamento característicos.

A medicação psicotrópica exerce os seus efeitos nos sintomas mentais e de comportamento através da influência química no sistema nervoso central. Estudos avaliaram esta medicação não só pelos seus efeitos benéficos nos objetivos pretendidos como também pelos seus efeitos adversos. A medicação psicotrópica só é administrada em crianças que possuem mais do que três anos devido aos efeitos secundários adversos e porque os seus problemas comportamentais e outros podem ser facilmente moldáveis através de outros tipos de intervenção. The American Academy of Pediatrics nota que as terapias a partir de drogas devem ser usadas em conjunto e não como substitutos para as terapias psicológicas, educacionais, de comportamento ou reabilitativas.

Então como se pode caracterizar o autismo Neurobiologicamente? Dos diversos estudos imagiológicos e bioquímicos realizados, Cátia Cardoso (2014) refere as seguintes alterações:
      Alterações da perfusão cerebral e da bioquímica neuronal;
      Alterações na conectividade cerebral – com repercussão neuroanatómica, celular e até molecular (Neuroimagem funcional);
      Genética molecular – Moléculas de adesão, proteínas sinápticas e equilíbrio inibição-excitação;
      Alteração muito precoce das Conexões Neuronais.

Estas mesmas explicam as diferentes características tendo em conta os aspetos do neurodesenvolvimento, do ponto de vista psiquiátrico e comportamental. São nessas características que a intervenção farmacológica tenta atenuar. Passamos então a referir quais os fármacos mais utilizados no autismo e em que quadros clínicos, resultado de uma revisão bibliográfica e apresentada no congresso sobre Autismo em 2014:.

Antipsicóticos – Risperidona
      Aprovada para o tratamento de crianças e adolescentes com PEA
 Tratamento da irritabilidade, agressão, auto-agressão, hiperactividade e comportamento repetitivo
      Estudos recentes (2010-2013) mostram a sua eficácia, segurança e alguns efeitos secundários
      Risperidona e topiramato  - a combinação parecem mais eficazes no controlo da irritabilidade, estereotipias.
 Antipsicóticos – Aripiprazol
      Outro antipsicótico aprovado para o tratamento de crianças e adolescentes com PEA
      Reduz irritabilidade, hiperactividade e estereotipias
 Antipsicóticos – Clozapina
      Apenas um caso descrito
      Efeito colateral – Agranulocitose
 Antidepressivos – SSRIs (fluoxetina, fluvoxamina, fenfluramina)
      Alguns estudos demonstraram melhorias em crianças e adolescentes
      Revisão sistemática da Cochrane mostrou que não existia benefício, salvaguardando a importância da realização de mais estudos;
      Efeitos colaterais – agitação e hiperatividade
 Psico-estimulantes - Metilfenidato
  Estimulante usado nas crianças com PEA ou nas PHDA (perturbação de hiperatividade com défice de atenção);
      Uso limitado pelos efeitos adversos descritos habitualmente nas crianças com PEA;
      Alguns estudos recentes reconhecem benefícios nas crianças com PEA;
 Psico-estimulantes – Atomoxetina
      Inibidor seletivo do re-uptake da norepinefrina;
      Alguns estudos demonstram melhoria dos sintomas em crianças e adolescentes com PEA;
      Outro estudo com bons resultados foi realizado num grupo de rapazes com PEA sem défice cognitivo e PHDA;
Melatonina
·   Neuro-hormona segregada pela glândula pineal, indutor do sono. O nível aumenta ao anoitecer, tem pico a meio da noite e depois diminui quando amanhece)
      É usada cada vez mais para tratar as alterações do sono nas PEA
      Vários estudos realizados com bons resultados, no entanto são necessários mais estudos para implementar a sua eficácia;
Ácidos gordos – Omega3
      Ácidos gordos essenciais – ALA, DHA e EPA
      DHA existe em grande quantidade no cérebro humano e os estudos sugerem que é essencial ao seu funcionamento e crescimento
      Alguns estudos referem baixa quantidade Omega 3 nas crianças com PEA. Foram efetuados estudos randomizados para o tratamento da PHDA, depressão e esquizofrenia;
      Nas crianças com PEA melhorou a hiperatividade, no entanto, por serem amostras pequenas torna-se necessários mais estudos;
 Terapêutica dirigida aos recetores do Glutamato
      O Glutamato é o principal neurotransmissor excitatório no SNC;
      Vias gabaérgicas estão associadas às estereotipias (em modelos animais de PEA, incluindo X-frágil);
Oxitocina
      Desempenha um papel neuromodelador nos comportamentos sexuais, ansiedade de separação, memória social, resposta ao stresse e regulação da amamentação e tratamento das crias;
      As Alterações da produção da oxitocina poderão existir nas PEA.
    Alguns trabalhos referem uma diminuição dos comportamentos repetitivos, e melhoria na capacidade de compreensão das emoções dos outros, quando é ministrado a oxitocina

Ana Marques, 2015