Prematuridade
- Definição:
Em 1892 Pierre Budin definiu prematuridade como a condição de um recém-nascido com menos de 2500g e publicou o primeiro conjunto de orientações para o cuidado de recém-nascidos. Juntamente com o seu associado Tarnier, desenhou um aparelho para “bebés frágeis”, construindo a primeira incubadora (Wyly, 1995). Embora muitos investigadores tenham procurado definir e categorizar as várias situações de prematuridade, actualmente a mais aceite é a sugerida pela Organização Mundial de Saúde (cit. In Wyly, 1995):
- Bebés Prematuros (PT) são bebés nascidos com menos de 37 semanas de gestação; (classificação baseada na idade gestacional)
- Recém-nascidos leves para a Idade Gestacional (LIG) são bebés nascidos com 37 ou mais semanas de gestação e cujo peso é baixo para a Idade Gestacional (classificação baseada no peso e na idade gestacional).
A Idade Gestacional, embora sendo um preditivo do período neonatal e do prognóstico a longo termo, nem sempre é um critério válido, recorrendo-se por isso às diferentes categorias de peso à nascença. (Rosenblatt, 1997, p.565 cit. in Botelho & Leal, 2001). Numa outra classificação mais recente a Organização Mundial de Saúde estipulou que:
- Bebés com baixo peso são bebés nascidos com menos de 2500g (RNBP);
- Bebés com muito baixo peso são bebés nascidos com menos de 1500g (RNMBP)
- Bebés com extremo baixo peso são bebés nascidos com menos de 1000g (RNEBP) (United Nations Children’s Fund and World Health Organization, 2004).
- Caracteristicas e Problemas Associados:
O nascimento prematuro traz mudanças bruscas e exigências fisiológicas ao bebé e devido à sua imaturidade neurológica e fisiológica estes bebés são frequentemente incapazes de satisfazer as exigências que lhes são colocadas, tornando-se consequentemente instáveis (Wyly, 1995). A imaturidade de um bebé é reflectida pela instabilidade dos sinais vitais; pela falta de coordenação das capacidades de chuchar, de engolir e de respirar ao mesmo tempo até às 32 semanas (Prechtl et al., 1979 cit. in Sostek & Goldson, 1999); pela fraca ou inexistente resposta reflexa (Wyly, 1995); pela incapacidade de modular respostas fisiológicas ao stress (Gorski, 1983; Gorski et al., 1983; cit. in Sostek & Goldson, 1999); e pela desorganização comportamental, observável no controlo desorganizado dos estados de sono/vigília e dificuldade em participar em interacções sociais. Assim, muito do que ocorre na UCIN serve essencialmente para manter o bebé, de um ponto de vista fisiológico, até que ele seja capaz de se manter independentemente (Sostek & Goldson, 1999).
O bebé com comportamento organizado é o reflexo de um sistema nervoso central (SNC) intacto e funcional. O funcionamento do SNC, não considerando anormalidades anatómicas, depende e reflecte a estabilidade dos sistemas cardiopulmonar, renal e circulatório. Deste modo, uma intervenção num sistema é provável ter efeitos nos outros sistemas. Assim, entre as questões levantadas no cuidado de bebés prematuros, devem ser equacionadas, quais os tipos de intervenções não médicas e desenvolvimentais que podem ser postas em prática para aumentar a estabilidade fisiológica e a organização comportamental do bebé frágil (Sostek & Goldson, 1999). Segundo Brazelton e Cramer (2000) os bebés prematuros demoram mais tempo a adormecer, apresentando ciclos de sono mais curtos e uma acentuada incapacidade para se protegerem dos estímulos, o que os leva a sentirem dificuldades na passagem do sono leve ao sono profundo. Os bebés prematuros também respondem menos aos estímulos e têm menos períodos de estado de alerta, são também menos activos e mais imprevisíveis, dificultando a adaptação global da família (Boukidis, Lester e Hoffman, 1987 cit. in Pimentel, 1999; Wyly, 1995).
De acordo com Fox e Feiring (1985 cit. in Franca, 1999), as crianças nascidas prematuramente têm uma menor capacidade de iniciar e manter interacções como resultado da sua imaturidade neurológica e vulnerabilidade fisiológica. As crianças prematuras apresentam, normalmente, devido à sua imaturidade fisiológica, dificuldades de adaptação ao meio extra-uterino que se traduzem sobretudo num risco acrescido de aparecimento de lesões neurológicas (Franca, 1999). Muitos problemas que ocorrem nos prematuros e bebés de baixo peso podem pôr em risco o bem-estar imediato do bebé ou ter impacto a longo prazo no desenvolvimento (Wyly, 1995).
Para a detecção de todas estas alterações e dificuldades no bebé e/ou crianças de PT é de extrema importância que no primeiro ano de vida seja dada especial atenção à evolução motora do prematuro, com avaliação do tónus passivo, postura, mobilidade activa e força muscular. Anormalidades neurológicas transitórias, envolvendo postura, capacidades motoras finas e grosseiras, coordenação e equilíbrio, reflexos e principalmente distonias (hiper ou hipotonia), são detectadas em 40-80% dos casos e desaparecem no segundo ano de vida. Este processo chama-se fenómeno de recuperação ou «catch up», utilizado por vários autores e que descreve o fenómeno que pode ocorrer com os recém-nascidos PT e de BP. Caracteriza-se pela taxa de crescimento mais rápida que o esperado, ou seja, velocidade acelerada de crescimento, que ocorre após um período de crescimento lento ou ausente, permitindo recuperar a deficiência prévia. No caso de prematuros que geralmente apresentam peso, comprimento e perímetro cefálico abaixo do percentil mínimo de normalidade nas curvas de crescimento pós-natal, a ocorrência de catch-up propicia que estes consigam, nos primeiros anos de vida, equiparar seu crescimento ao das crianças sadias nascidas de termo. Considera-se que, ao completar o catch-up, o prematuro recuperou o seu potencial de crescimento. (Rugolo, 2005)
Vários estudos de follow-up mostraram que crianças GPT e de MBP são de risco para disfunções neurológicas tais como a paralisia cerebral e atraso mental, ou seja, maiores taxas de deficiência são observadas nas menores faixas do peso e de idade gestacional, que se correlacionam significativamente com a incidência de complicações no período neonatal. A maior parte destas crianças apresentam dificuldades intelectuais, alterações das capacidades de linguagem e fala, como também incoordenação motora e problemas de atenção e de comportamento.
Para um despiste fundamentado entre a relação da prematuridade, o défice cognitivo e a ausência de uma relação clara de alterações cerebrais, alguns estudos tentaram observar a relação entre as crianças de PT com baixos factores de risco e com crianças de PT que apresentem factores de alto risco para o desenvolvimento. Verificou-se que mesmo as crianças de PT com baixos factores de risco podem apresentar défices cognitivos específicos devido a prematuridade, tais como: a coordenação óculo-motora; a memória explícita e auditiva, vindo a apresentar na idade escolar dificuldades de aprendizagem e défice de atenção. (Shirmer et al, 2006; Caravale et al, 2005)
Estas dificuldades podem ser explicadas pelas alterações observadas através de estudos com base na imagiologia, tais como: a dilatação dos ventrículos, atrofia do corpo caloso e diminuição do volume do hipocampo. Também se verificou que a dimensão do cérebro do adolescente é mais pequena e que apresenta uma correlação significativa com o quociente de inteligência, com o “digit span” e com as capacidades de leitura demonstradas para a idade. (Largo et al, 1996, Cohen et al, 2007, Peterson et al, 2002)
Outras alterações estruturais encontradas nas crianças e adolescentes com história de prematuridade foram um aumento do volume da massa cinzenta, do corno occipital e corpo ventricular, bem como uma redução do volume da massa cinzenta temporal e subcortical. A história de hemorragia intraventricular no período neo-natal foi associada á redução do volume da massa cinzenta na região subcortical, por conseguinte estas alterações correlacionam-se com um quociente de desenvolvimento global pobre (Peterson et al, 2000; kesler et al, 2004).
Um dos problemas já referidos que está associado à prematuridade é o défice de atenção (DA), que tem grande influência em todo o processo do desenvolvimento das capacidades de linguagem e de aprendizagem e que está associado a alterações na substância branca do cérebro. Através de estudos de imagiologia é possível observar que alterações nas microestruturas da substância branca ainda são visíveis aos onze anos de idade em crianças com défice de atenção e com história de prematuridade. As áreas alteradas visualizadas, quando comparadas com crianças de termo sem défice de atenção, foram a região da cápsula interna e a região posterior do corpo caloso bilaterais (Nagy et al, 2003). Estas alterações estruturais podem estar relacionadas com as perturbações do desenvolvimento cognitivo demonstradas (Woodward et al, 2006).
A importância do conhecimento destas possíveis alterações e problemas associados à prematuridade traduz-se numa mudança de comportamento tendo em vista não a intervenção propriamente dita mas sim numa abordagem no sentido de uma intervenção preventiva
- Bebés com baixo peso são bebés nascidos com menos de 2500g (RNBP);
- Bebés com muito baixo peso são bebés nascidos com menos de 1500g (RNMBP)
- Bebés com extremo baixo peso são bebés nascidos com menos de 1000g (RNEBP) (United Nations Children’s Fund and World Health Organization, 2004).
- Caracteristicas e Problemas Associados:
O nascimento prematuro traz mudanças bruscas e exigências fisiológicas ao bebé e devido à sua imaturidade neurológica e fisiológica estes bebés são frequentemente incapazes de satisfazer as exigências que lhes são colocadas, tornando-se consequentemente instáveis (Wyly, 1995). A imaturidade de um bebé é reflectida pela instabilidade dos sinais vitais; pela falta de coordenação das capacidades de chuchar, de engolir e de respirar ao mesmo tempo até às 32 semanas (Prechtl et al., 1979 cit. in Sostek & Goldson, 1999); pela fraca ou inexistente resposta reflexa (Wyly, 1995); pela incapacidade de modular respostas fisiológicas ao stress (Gorski, 1983; Gorski et al., 1983; cit. in Sostek & Goldson, 1999); e pela desorganização comportamental, observável no controlo desorganizado dos estados de sono/vigília e dificuldade em participar em interacções sociais. Assim, muito do que ocorre na UCIN serve essencialmente para manter o bebé, de um ponto de vista fisiológico, até que ele seja capaz de se manter independentemente (Sostek & Goldson, 1999).
O bebé com comportamento organizado é o reflexo de um sistema nervoso central (SNC) intacto e funcional. O funcionamento do SNC, não considerando anormalidades anatómicas, depende e reflecte a estabilidade dos sistemas cardiopulmonar, renal e circulatório. Deste modo, uma intervenção num sistema é provável ter efeitos nos outros sistemas. Assim, entre as questões levantadas no cuidado de bebés prematuros, devem ser equacionadas, quais os tipos de intervenções não médicas e desenvolvimentais que podem ser postas em prática para aumentar a estabilidade fisiológica e a organização comportamental do bebé frágil (Sostek & Goldson, 1999). Segundo Brazelton e Cramer (2000) os bebés prematuros demoram mais tempo a adormecer, apresentando ciclos de sono mais curtos e uma acentuada incapacidade para se protegerem dos estímulos, o que os leva a sentirem dificuldades na passagem do sono leve ao sono profundo. Os bebés prematuros também respondem menos aos estímulos e têm menos períodos de estado de alerta, são também menos activos e mais imprevisíveis, dificultando a adaptação global da família (Boukidis, Lester e Hoffman, 1987 cit. in Pimentel, 1999; Wyly, 1995).
De acordo com Fox e Feiring (1985 cit. in Franca, 1999), as crianças nascidas prematuramente têm uma menor capacidade de iniciar e manter interacções como resultado da sua imaturidade neurológica e vulnerabilidade fisiológica. As crianças prematuras apresentam, normalmente, devido à sua imaturidade fisiológica, dificuldades de adaptação ao meio extra-uterino que se traduzem sobretudo num risco acrescido de aparecimento de lesões neurológicas (Franca, 1999). Muitos problemas que ocorrem nos prematuros e bebés de baixo peso podem pôr em risco o bem-estar imediato do bebé ou ter impacto a longo prazo no desenvolvimento (Wyly, 1995).
Para a detecção de todas estas alterações e dificuldades no bebé e/ou crianças de PT é de extrema importância que no primeiro ano de vida seja dada especial atenção à evolução motora do prematuro, com avaliação do tónus passivo, postura, mobilidade activa e força muscular. Anormalidades neurológicas transitórias, envolvendo postura, capacidades motoras finas e grosseiras, coordenação e equilíbrio, reflexos e principalmente distonias (hiper ou hipotonia), são detectadas em 40-80% dos casos e desaparecem no segundo ano de vida. Este processo chama-se fenómeno de recuperação ou «catch up», utilizado por vários autores e que descreve o fenómeno que pode ocorrer com os recém-nascidos PT e de BP. Caracteriza-se pela taxa de crescimento mais rápida que o esperado, ou seja, velocidade acelerada de crescimento, que ocorre após um período de crescimento lento ou ausente, permitindo recuperar a deficiência prévia. No caso de prematuros que geralmente apresentam peso, comprimento e perímetro cefálico abaixo do percentil mínimo de normalidade nas curvas de crescimento pós-natal, a ocorrência de catch-up propicia que estes consigam, nos primeiros anos de vida, equiparar seu crescimento ao das crianças sadias nascidas de termo. Considera-se que, ao completar o catch-up, o prematuro recuperou o seu potencial de crescimento. (Rugolo, 2005)
Vários estudos de follow-up mostraram que crianças GPT e de MBP são de risco para disfunções neurológicas tais como a paralisia cerebral e atraso mental, ou seja, maiores taxas de deficiência são observadas nas menores faixas do peso e de idade gestacional, que se correlacionam significativamente com a incidência de complicações no período neonatal. A maior parte destas crianças apresentam dificuldades intelectuais, alterações das capacidades de linguagem e fala, como também incoordenação motora e problemas de atenção e de comportamento.
Para um despiste fundamentado entre a relação da prematuridade, o défice cognitivo e a ausência de uma relação clara de alterações cerebrais, alguns estudos tentaram observar a relação entre as crianças de PT com baixos factores de risco e com crianças de PT que apresentem factores de alto risco para o desenvolvimento. Verificou-se que mesmo as crianças de PT com baixos factores de risco podem apresentar défices cognitivos específicos devido a prematuridade, tais como: a coordenação óculo-motora; a memória explícita e auditiva, vindo a apresentar na idade escolar dificuldades de aprendizagem e défice de atenção. (Shirmer et al, 2006; Caravale et al, 2005)
Estas dificuldades podem ser explicadas pelas alterações observadas através de estudos com base na imagiologia, tais como: a dilatação dos ventrículos, atrofia do corpo caloso e diminuição do volume do hipocampo. Também se verificou que a dimensão do cérebro do adolescente é mais pequena e que apresenta uma correlação significativa com o quociente de inteligência, com o “digit span” e com as capacidades de leitura demonstradas para a idade. (Largo et al, 1996, Cohen et al, 2007, Peterson et al, 2002)
Outras alterações estruturais encontradas nas crianças e adolescentes com história de prematuridade foram um aumento do volume da massa cinzenta, do corno occipital e corpo ventricular, bem como uma redução do volume da massa cinzenta temporal e subcortical. A história de hemorragia intraventricular no período neo-natal foi associada á redução do volume da massa cinzenta na região subcortical, por conseguinte estas alterações correlacionam-se com um quociente de desenvolvimento global pobre (Peterson et al, 2000; kesler et al, 2004).
Um dos problemas já referidos que está associado à prematuridade é o défice de atenção (DA), que tem grande influência em todo o processo do desenvolvimento das capacidades de linguagem e de aprendizagem e que está associado a alterações na substância branca do cérebro. Através de estudos de imagiologia é possível observar que alterações nas microestruturas da substância branca ainda são visíveis aos onze anos de idade em crianças com défice de atenção e com história de prematuridade. As áreas alteradas visualizadas, quando comparadas com crianças de termo sem défice de atenção, foram a região da cápsula interna e a região posterior do corpo caloso bilaterais (Nagy et al, 2003). Estas alterações estruturais podem estar relacionadas com as perturbações do desenvolvimento cognitivo demonstradas (Woodward et al, 2006).
A importância do conhecimento destas possíveis alterações e problemas associados à prematuridade traduz-se numa mudança de comportamento tendo em vista não a intervenção propriamente dita mas sim numa abordagem no sentido de uma intervenção preventiva
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in Dissertação de Mestrado em Terapia da Fala, Patologias da Linguagem, 2010 «Capacidades de Linguagem de Crianças Nascidas de Pré-termo entre os 3 e 4 anos de Idade»
in Dissertação de Mestrado em Terapia da Fala, Patologias da Linguagem, 2010 «Capacidades de Linguagem de Crianças Nascidas de Pré-termo entre os 3 e 4 anos de Idade»
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ResponderEliminarOi Ana.
ResponderEliminarMe interesso muito pelo tema do desenvolvimento da fala pois meu filho é prematuro de 33 semanas nascido com 2.4kg, chegou a cair para 1.8 pois eu nao tive leite devido a todo stress da situaçao, enfim, hoje ele ja passou pelo catch up, tem 0,98cm de altura e 16kg, apesar da APLV.
Porem me preocupa ele ainda estar monossilabo e ter dificuldade em atividades como andar de bicicleta e com o triciclo, apesar de amar musica, dançar super bem e ter andado com menos de 1 ano.
Minha familia acha que devo procurar logo um fono mas acho que seria interessante aguardar o despertar do desenvolvimento por mais 3 meses ja que este ano ele esta na Escola.
Qual a sua opiniao?
Forte abraço,
Fernanda.