Das minhas «leituras» perante a incompreensão de alguns sintomas que me deparo no meu dia a dia como terapeuta, surgem aqui estas pequenas reflexões, esta será assim mais uma, fruto dessas procuras no sentido de perceber um pouco mais e de certa forma tentar ajudar, adequar a minha prática. Neste sentido hoje falamos sobre farmacologia na patologia - neste caso nas perturbações do espectro do autismo e posteriormente quais as repercussões da terapêutica medicamentosa da PHDA na gaguez.
Apesar de nenhum fármaco ter sido encontrado como a
cura para o autismo vários medicamentos são usados para controlar as co-morbilidades
associadas ao autismo, com o objetivo de minorar os problemas de comportamento
característicos.
A medicação psicotrópica exerce os seus efeitos nos
sintomas mentais e de comportamento através da influência química no sistema
nervoso central. Estudos avaliaram esta medicação não só pelos seus efeitos
benéficos nos objetivos pretendidos como também pelos seus efeitos adversos. A
medicação psicotrópica só é administrada em crianças que possuem mais do que
três anos devido aos efeitos secundários adversos e porque os seus problemas
comportamentais e outros podem ser facilmente moldáveis através de outros tipos
de intervenção. The American Academy of Pediatrics nota que as terapias a
partir de drogas devem ser usadas em conjunto e não como substitutos para as
terapias psicológicas, educacionais, de comportamento ou reabilitativas.
Então
como se pode caracterizar o autismo Neurobiologicamente? Dos diversos estudos
imagiológicos e bioquímicos realizados, Cátia Cardoso (2014) refere as seguintes
alterações:
• Alterações
da perfusão cerebral e da bioquímica neuronal;
• Alterações
na conectividade cerebral – com repercussão neuroanatómica, celular e até
molecular (Neuroimagem funcional);
• Genética
molecular – Moléculas de adesão, proteínas sinápticas e equilíbrio
inibição-excitação;
• Alteração
muito precoce das Conexões Neuronais.
Estas
mesmas explicam as diferentes características tendo em conta os aspetos do
neurodesenvolvimento, do ponto de vista psiquiátrico e comportamental. São
nessas características que a
intervenção farmacológica tenta atenuar. Passamos então a referir quais os
fármacos mais utilizados no autismo e em que quadros clínicos, resultado de uma
revisão bibliográfica e apresentada no congresso sobre Autismo em 2014:.
Antipsicóticos
– Risperidona
• Aprovada
para o tratamento de crianças e adolescentes com PEA
• Tratamento
da irritabilidade, agressão, auto-agressão, hiperactividade e comportamento
repetitivo
• Estudos
recentes (2010-2013) mostram a sua eficácia, segurança e alguns efeitos
secundários
• Risperidona
e topiramato - a combinação parecem mais
eficazes no controlo da irritabilidade, estereotipias.
Antipsicóticos
– Aripiprazol
• Outro
antipsicótico aprovado para o tratamento de crianças e adolescentes com PEA
• Reduz
irritabilidade, hiperactividade e estereotipias
Antipsicóticos
– Clozapina
• Apenas
um caso descrito
• Efeito
colateral – Agranulocitose
Antidepressivos – SSRIs
(fluoxetina, fluvoxamina, fenfluramina)
• Alguns
estudos demonstraram melhorias em crianças e adolescentes
• Revisão
sistemática da Cochrane mostrou que não existia benefício, salvaguardando a
importância da realização de mais estudos;
• Efeitos
colaterais – agitação e hiperatividade
Psico-estimulantes
- Metilfenidato
• Estimulante
usado nas crianças com PEA ou nas PHDA (perturbação de hiperatividade com
défice de atenção);
• Uso
limitado pelos efeitos adversos descritos habitualmente nas crianças com PEA;
• Alguns
estudos recentes reconhecem benefícios nas crianças com PEA;
Psico-estimulantes – Atomoxetina
• Inibidor
seletivo do re-uptake da
norepinefrina;
• Alguns
estudos demonstram melhoria dos sintomas em crianças e adolescentes com PEA;
• Outro
estudo com bons resultados foi realizado num grupo de rapazes com PEA sem
défice cognitivo e PHDA;
Melatonina
· Neuro-hormona segregada pela glândula pineal,
indutor do sono. O nível aumenta ao anoitecer, tem pico a meio da noite e
depois diminui quando amanhece)
• É
usada cada vez mais para tratar as alterações do sono nas PEA
• Vários
estudos realizados com bons resultados, no entanto são necessários mais estudos
para implementar a sua eficácia;
Ácidos gordos – Omega3
• Ácidos
gordos essenciais – ALA, DHA e EPA
• DHA
existe em grande quantidade no cérebro humano e os estudos sugerem que é
essencial ao seu funcionamento e crescimento
• Alguns
estudos referem baixa quantidade Omega 3 nas crianças com PEA. Foram efetuados
estudos randomizados para o tratamento da PHDA, depressão e esquizofrenia;
• Nas
crianças com PEA melhorou a hiperatividade, no entanto, por serem amostras
pequenas torna-se necessários mais estudos;
Terapêutica dirigida aos recetores do
Glutamato
• O Glutamato
é o principal neurotransmissor excitatório no SNC;
• Vias
gabaérgicas estão associadas às estereotipias (em modelos animais de PEA,
incluindo X-frágil);
Oxitocina
• Desempenha
um papel neuromodelador nos comportamentos sexuais, ansiedade de separação,
memória social, resposta ao stresse e regulação da amamentação e tratamento das
crias;
• As Alterações
da produção da oxitocina poderão existir nas PEA.
Alguns trabalhos referem
uma diminuição dos comportamentos repetitivos, e melhoria na capacidade de compreensão
das emoções dos outros, quando é ministrado a oxitocina
Ana Marques, 2015
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