sábado, 4 de fevereiro de 2012

A INFLUÊNCIA DOS HÁBITOS ORAIS NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA

A presença de hábitos ligados à região oral, tais como: a sucção da chucha, do biberão, do dedo, o roer as unhas ou o colocar objetos na boca, é muito comum nas crianças e na maioria das vezes esses comportamentos são tolerados ou até incentivados pelos adultos, uma vez que os utilizam como forma de acalmar ou entreter a criança, sem muitas vezes se darem de conta do que eles significam no desenvolvimento infantil.


Sabemos que no início da vida, a criança tem uma necessidade de sucção, não só como fins para a alimentação, mas também como forma de se autoregular e de experimentar.


No que respeita a alimentação, a sucção deve ser gradualmente substituída por outras capacidades motoras orais que permitam a maturação e o crescimento adequado das estruturas orofaciais, ou seja, preferir sempre a amamentação, se não for possível ou se a amamentação não for exclusiva utilizar tetinas ortodonticas, com furos apropriados, que estimulam os movimentos musculares da língua, dos lábios e das bochechas e visam aproximar esta movimentação àquela que ocorre quando a criança suga o seio. Contudo, mesmo esse tipo de bico deve ser substituído pelo copo, tão logo a criança seja capaz de utilizá-lo.

O uso prolongado da chucha e do biberão podem alterar todo o equilíbrio muscular da face, na medida em que deixa a boca frequentemente aberta e a língua com uma postura inadequada dentro da cavidade intra oral. Nestes casos, ocorre também alteração no tónus muscular das bochechas e do padrão respiratório, já que a criança passa a respirar pela boca, ao invés de utilizar o nariz. O contrário também pode ocorrer, isto é, crianças com problemas respiratórios, tais como rinites, podem desenvolver um padrão de respiração bucal, devido à frequente obstrução nasal (respirador oral).


Estas alterações de tónus e de posturas dos articuladores podem levar a alterações na implantação dentária e/ou na oclusão dentária e em simultâneo alterações na articulação dos sons da fala. Associado a estas alterações de tonus e de postura da língua e pela persistência de um reflexo de sucção que já não deveria existir, a criança poderá apresentar alterações miofuncionais orais para a alimentação (deglutição atípica, alterações no padrão da mastigação).


Abordando a capacidade da fala, sabemos que, para pronunciar os sons, utilizamos muitos dos órgãos usados na alimentação, tais como lábios, língua, dentes e bochechas. Estas estruturas são preparadas, desde os primeiros dias de vida, para a articulação dos fonemas, pela alimentação e pelo trabalho muscular realizado através dela. Sendo assim, uma criança que tenha tido um padrão de alimentação adequado, sem “maus hábitos orais” e livre de problemas físicos, mentais, emocionais ou ambientais, tende a ter um bom desenvolvimento da fala.
Contudo, uma criança que apresente alterações nesses aspectos pode desenvolver formas de mastigação alteradas, tais como: mastigar pouco, mastigar apenas de um lado, amolecer o alimento com a língua em vez de utilizar os dentes para triturá-lo, os músculos faciais e a musculatura da língua não são exercitados adequadamente e podem não corresponder ao movimento solicitado para a produção de determinados sons da fala.


As crianças com deglutições atípicas engolem os alimentos e a saliva com posicionamento inadequado da língua, exercendo pressão sobre os dentes, hábito que geralmente não é percebido ou é encarado como passageiro, mas que pode alterar a musculatura e ocasionar, dentro de outras alterações, dificuldades na pronúncia da fala, principalmente dos sons que requerem movimentação da ponta da língua, tais como: “t”, “d”, “n”, “r”, “l”, “s” e “z”.


Podem ocorrer também problemas emocionais que façam com que a criança mantenha um padrão infantilizado e necessite utilizar objetos para uma satisfação oral, ou ainda que viva num ambiente que estimule a manutenção dos hábitos orais, incentivando o uso da chucha e do biberão.


Perceber estas alterações, procurar as causas, prevenir ou intervir sobre os seus efeitos é importante para o desenvolvimento da criança, pois estas dificuldades, se não forem trabalhadas, podem acompanhar a pessoa durante toda a vida, sendo comuns alterações de fala em adultos, decorrentes de hábitos orais utilizados na infância e que afetam as suas relações pessoais e profissionais, já que um bom padrão de fala é algo bastante valorizado, sendo inclusive um fator de exclusão no mercado de trabalho em algumas profissões.

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