quarta-feira, 21 de março de 2012

COMUNICAÇÃO, LINGUAGEM E FALA NA CRIANÇA COM TRISSOMIA 21

“A dificuldade em comunicar tem consequências e afecta as pessoas em todas as situações da vida em qualquer idade. Para uma criança no período préverbal, as dificuldades de comunicação afectam a interacção com as pessoas que cuidam dela e perturbam ou impedem o processo de socialização natural.”

Hoje, dia 21 de Março comemora-se o dia Mundial da Trissomia 21, como terapeuta da fala não podia deixar de escrever algo no âmbito deste patologia e dedico este artigo a uma menina muito especial e lutadora que tive o prazer de conhecer e trabalhar há 12 anos atrás a C.
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A Trissomia 21 define-se como uma alteração da organização genética e cromossómica do par 21, pela presença total ou parcial de um cromossoma extra nas células do organismo, ou por alterações de um dos cromossomas do par 21 por permuta de partes com outro cromossoma de outro par de cromossomas (Morato, 1995).

Sabemos hoje que a maturação do sistema nervoso e a aquisição dos conhecimentos necessários para que surja o funcionamento linguístico dão-se mais lentamente nestas crianças do que nas que apresentam um desenvolvimento normal (Perera & Rondal, 1994). Este grupo possui um padrão de especialização cerebral peculiar, apresentando uma dominância direita para a recepção da linguagem (como já é conhecido), revelando-se, contudo, esquerdos (especialização do hemisfério esquerdo) para o controle dos movimentos da boca, incluindo os movimentos da fala. Estas aportações resultam de estudos baseados na assimetria do movimento da boca, efectuados por diversos investigadores (Heath e Elliot, 1999; Weeks e colaboradores, 1995). Isto significa que as pessoas com T21 não só possuem uma lateralidade inversa, como os seus centros cerebrais para o processamento da linguagem carecem de uma conectividade óptima, o que permite explicar, por um lado, a diferença que existe, nesta população, entre compreensão e produção (a favor da primeira), e por outro, a persistência das dificuldades nas dimensões fonológica e morfossíntáctica (Aguado e Peralta, cit. in Peña, 2002).
Esta lentidão para perceber, processar e elaborar respostas face a estímulos externos, implica que tenham necessidade de mais tempo. Este desenvolvimento retardado e deficitário relacionado com as capacidades cognitivas gerais observa-se também ao nível das capacidades de comunicação não-verbal pré-linguisticas, tais como: o contacto visual, direcção do olhar, o apontar.

Daí a importância da intervenção precoce junto a estas crianças no sentido de estimular as capacidades pré-linguistas com vista a minimizar o atraso da comunicação, linguagem e fala características encontradas nestas crianças em diferentes graus de severidade.

São vários os estudos que referem como metodologia de intyervenção precoce com estas crianças a utilização do gesto em simultâneo com a fala. Pois a combinação destes dois sistemas irão facilitar o desenvolvimento da comunicação. Ajuda a criança a progredir na linguagem, ainda que não esteja pronta para utilizar a fala e ajuda a ultrapassar a sua frustração de não se fazer compreender.

Ana Marques


Bibliografia

MUNDY,P e tal. 1988.« Nonverbal Communication Skills in Down Syndrome Children»in Child DevelopmentVol. 59, No. 1 (Feb., 1988), pp. 235-249
REIS, S. 2005 «Um contributo multimédia para a estimulação da linguagem» Universidade de Aveiro
FOWLER, A. .1986. «THE DEVELOPMENT OF LANGUAGE STRUCTURE IN CHILDREN WITH DOWN SYNDROME» in Development of Language Structure

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